29 de dezembro de 2019

ZÉNITE




"Zénite"


Recolho-me nos ventos
do teu perfume de alfazema
para viajar sem pressas
pelos teus carinhos,
entrelaçar-me feito poema
em teus ternos e lentos beijos

E assim – no silêncio do aconchego –
voamos ambos por inteiro
na cumplicidade da noite
e nos segredos dos lençóis.

E planamos...
planamos...
sem desassombro e sem fim
nas asas da fantasia
e nas inquietas teias
dos nossos corpos
onde parte de mim vive em ti,
num dilúvio de chamas flamejantes
para encontrar flores frescas
e eternizar a primavera.

 © António Carlos Santos
In "da Geometria do Amor" - Seda Publicações

13 de dezembro de 2019

A MINHA MULHER AMADA


Pintura de Degas


“A MINHA MULHER AMADA”


Parti para longe, para terras estranhas.
Vi terras bonitas, cidades tamanhas…
Que nem nos bons sonhos assim as sonhei,
Mas não encontrei!

A mulher de que eu gostasse,
Que eu tanto amasse!
Que pena, que o tempo passasse,
A idade a correr sem que te encontrasse!

Por que é que me querem dar um lago
Se eu gosto mais do mar e seus rochedos?
O lago não existe, transforma-se em luar vago!

É que já vi no mar a minha sereia bem guardada.
E este forte abraço de amor com beijos e segredos
Já podia ter acontecido antes, minha mulher amada!

© Alfredo Costa Pereira

LENÇO DE SEDA


Ilustração obra de Pascal chove


LENÇO DE SEDA


Assisto ao parto
Das palavras doutas
Seduzido plos teus olhos
E o teu rosto de lua
Gatos pardos e velhos
Acariciam-me as pernas
Trémulas pelo temor
De não entender o mundo
E a paixão do teu amor
Resta-me o lenço de seda
Chinesa, pra limpar a alma
Enquanto não se põe o sol
E a noite acorda os sapos
Verdes ávidos de chuva
Resta-me o silêncio!
E a memória do teu beijo
Daquela noite escura
De novembro
Resta-me o rosto
Pintado pela cor
Esbatida do teu bâton
Agora!
Tudo está consumado
Definitivamente
Num gole da última gota
Saboreada divinamente
De uísque velho escocês
Eu penso no amor!
Essa palavra ancestral
Que mata corações
Frágeis e rouba vida
Agora restam ilusões
Tudo está consumado
E, eu estou de saída
Serenamente, enamorado
Pelo secreto mistério
Por Deus criado
E por este poema
Que escrevi inspirado
Pra limpar as lágrimas
Desta eterna tristeza
Resta-me o teu lenço
De seda chinesa.