13 de dezembro de 2019

LENÇO DE SEDA


Ilustração obra de Pascal chove


LENÇO DE SEDA


Assisto ao parto
Das palavras doutas
Seduzido plos teus olhos
E o teu rosto de lua
Gatos pardos e velhos
Acariciam-me as pernas
Trémulas pelo temor
De não entender o mundo
E a paixão do teu amor
Resta-me o lenço de seda
Chinesa, pra limpar a alma
Enquanto não se põe o sol
E a noite acorda os sapos
Verdes ávidos de chuva
Resta-me o silêncio!
E a memória do teu beijo
Daquela noite escura
De novembro
Resta-me o rosto
Pintado pela cor
Esbatida do teu bâton
Agora!
Tudo está consumado
Definitivamente
Num gole da última gota
Saboreada divinamente
De uísque velho escocês
Eu penso no amor!
Essa palavra ancestral
Que mata corações
Frágeis e rouba vida
Agora restam ilusões
Tudo está consumado
E, eu estou de saída
Serenamente, enamorado
Pelo secreto mistério
Por Deus criado
E por este poema
Que escrevi inspirado
Pra limpar as lágrimas
Desta eterna tristeza
Resta-me o teu lenço
De seda chinesa.