SINTO-TE
No aroma dos jardins e no néctar sugado pelas abelhas na primavera
Na carícia do vento e em cada folha que cai
No cume das montanhas, onde a natureza me abraça
Nos silvados de amoras bravas e nos laranjais
Sinto-te
Nas águas de uma nascente, no silêncio e no canto das aves
No extenso azul do mar
No rendilhado da espuma branca que morre no areal
Nos barcos vazios atracados no cais
Sinto-te
Nos ventos que trazem o cheiro a maresia
Nas gaivotas que se erguem em pleno voo
Nas nuvens de algodão que se movem lentas no céu
No luar das noites transparentes e nas estrelas cintilantes, onde pouso o olhar
Nos sons da água que corre em cascata
Nos nenúfares que flutuam nos lagos, no botão a desabrochar
Sinto-te
Nas paredes grafitadas das ruas que percorro
Nas insólitas sombras, nos passos andados
Em cada alvorecer, nos raios de sol que me vêm beijar
Na chuva que canta no telhado e desliza pela vidraça
Nas melodias escutadas, na letra de cada canção
Nos poemas que escrevo com o coração
Sinto-te
No sol que desaparece lentamente no horizonte
No silêncio das noites que caem devagar
Na palidez das paredes do meu quarto, onde o meu corpo se despe
Sinto-te
Em todos os meus sonhos e nas madrugadas de saudade
Sinto-te...
Porque te lembro, em todos os lugares e instantes…
Apenas... sinto-te...
Lurdes Rebelo